O que é Ayurveda? Um convite ao autocuidado e ao equilíbrio
- vivianeokama
- 19 de abr.
- 4 min de leitura
Uma sabedoria milenar que nos ensina a viver com mais presença, leveza e conexão com a natureza.
Em algum momento da vida, sentimos o chamado para cuidar mais de nós mesmos. Às vezes ele chega como um sussurro — um cansaço persistente, uma ansiedade que não passa, um vazio mesmo em dias cheios. Outras vezes, é um grito — uma doença, uma crise, uma mudança que nos obriga a parar.

No meu caso, o grito veio em forma de dor. Uma crise de fibromialgia que me fez repensar tudo: meu ritmo, meus hábitos, minha forma de viver. Foi nesse momento que me reconectei com meu corpo com a ajuda do Ayurveda.
Mais do que um sistema de saúde, o Ayurveda é uma filosofia de vida que nos convida a nos reconectar com quem somos, com a natureza e com o que verdadeiramente nos equilibra. Nascido há mais de 5 mil anos na Índia, ele nos ensina que saúde não é apenas ausência de doença, mas um estado de harmonia entre corpo, mente e espírito.
Cada pessoa é única. Por isso, o Ayurveda nos ajuda a entender nossa constituição (os doshas), nossos ritmos, o que nos fortalece e o que nos desequilibra. A partir desse autoconhecimento, o cuidado deixa de ser uma regra imposta de fora e passa a ser um gesto de amor que nasce de dentro.
Com o tempo, raspar a língua ao acordar, preparar uma refeição quente com atenção, dormir mais cedo ou massagear o corpo com óleo morno deixam de ser apenas “hábitos saudáveis” e se transformam em rituais de presença. Pequenas práticas que nos lembram de viver no agora e sentir nosso corpo.
Ayurveda é isso: um caminho de volta para si. Um convite ao despertar e à reconexão.
Os cinco elementos e os doshas: o corpo como parte da natureza
Na essência do Ayurveda está a compreensão de que somos feitos dos mesmos elementos que compõem tudo à nossa volta. Terra, água, fogo, ar e éter (ou espaço) — esses são os cinco grandes elementos da natureza, os Pancha Mahabhutas.

Cada um deles carrega qualidades específicas. A terra traz estabilidade, a água promove fluidez, o fogo transforma, o ar movimenta e o éter cria espaço para tudo existir. Quando combinados em diferentes proporções, esses elementos formam os doshas, as forças biológicas que atuam em nosso corpo e mente:
Vata (ar + éter): leve, frio, seco e móvel. Relacionado ao movimento, criatividade, mas também à ansiedade e ao cansaço.
Pitta (fogo + água): quente, intenso e penetrante. Ligado à digestão, raciocínio e foco — mas também à irritação e inflamações.
Kapha (terra + água): denso, estável e nutritivo. Proporciona acolhimento, paciência e força, mas em excesso pode gerar lentidão e tristeza.

Todos nós temos os três doshas, mas em proporções únicas — essa é a nossa constituição de nascimento, chamada prakriti. Entender essa combinação nos ajuda a fazer escolhas mais conscientes no dia a dia.
Prakriti e Vikruti: nossa natureza e nossos momentos
Algo que me tocou muito foi entender a diferença entre prakriti (nossa essência) e vikruti (nosso estado atual). Muitas vezes, o que sentimos no corpo ou nas emoções não é “quem somos”, mas um desequilíbrio temporário.
No Ayurveda, compreendemos que os sintomas e as doenças surgem justamente desse acúmulo ou excesso de doshas — quando alguma dessas energias ultrapassa seu limite e perde o equilíbrio natural.

Por exemplo, você pode ter uma constituição predominantemente Kapha, mas viver um momento de Vata elevado, com insônia, ansiedade e agitação. Ou ter uma constituição Vata, mas estar com o fogo tão alto que surgem irritações, azia ou impaciência.
O Ayurveda nos convida à escuta: Como estou hoje? O que meu corpo quer me dizer? Que tipo de rotina, alimento ou prática pode me ajudar a voltar ao centro?
Tudo influencia: estações, ciclos e ritmos da vida
No Ayurveda, aprendemos que nosso estado de equilíbrio não depende apenas da nossa constituição interna. Somos também profundamente influenciados pelos ciclos da natureza — as estações do ano, os horários do dia, e até as fases da vida.
Por exemplo, o outono, com seu ar seco e instável, tende a aumentar Vata. O verão, quente e intenso, agrava Pitta. O inverno, mais úmido e pesado, pode desequilibrar Kapha.
Na vida, passamos por fases: a infância é naturalmente Kapha, a vida adulta tem predominância de Pitta, e a velhice é marcada pela energia de Vata.

Perceber esses ritmos nos convida a ajustar nossos hábitos com mais consciência. Assim como a natureza muda, nós também mudamos. E cuidar de si é, também, aprender a dançar com os ciclos da vida, em harmonia com o tempo e com o corpo.
Um caminho que começa na escuta
Nesta medicina milenar, cada sintoma é um convite à escuta. Um desconforto, uma insônia, um cansaço que persiste — tudo isso são sinais. O cuidado começa no simples: um chá morno, uma respiração profunda, o merecido descanso.
O Ayurveda não busca a perfeição, e sim a harmonia, a presença, a saúde e o bem-estar.
Se esse texto tocou você de alguma forma, talvez esse chamado também esteja ecoando aí dentro. Esse caminho começa agora — com você.
Vamos juntos nessa caminhada?

Referências:
- Lad V. Ayurveda; The complete book of Ayurvedic Home Remedies. New York; 1998.
- Lad V. Ayurveda; A ciência da autocura: um guia prático. 3. ed. São Paulo: Ground; 2012.
- Ensinamentos orais nas aulas do curso de Formação em Ayurveda da Clínica Dhanvantari.
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